quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Rock'n'roll piauiense em alta: Fronteiras Blues

Formada há dois anos, a banda Fronteiras Blues tem despontado no cenário musical piauiense, participado de festivais e eventos dentro e fora do estado (recentemente a banda tocou em Fortaleza e Sobral). Com uma sonoridade que mescla o rock’n’roll e o blues rock, a banda preza pela composição autoral e acredita na música como ferramenta de transformação. Composta por Janis Oliver, Marcelo Carvalho, Pablo Arruda, Pedro Ualef e Benício Brandão, a banda Fronteiras Blues estreia o blog da Zaboomba com uma entrevista em forma de bate-papo, bem descontraída e sem neuras. 

Fronteiras Blues (Foto: arquivo pessoal)


Zaboomba: Em dois anos de banda, o que vocês conseguem observar no cenário musical piauiense?

Fronteiras Blues: Quando começamos, queríamos fazer uma coisa que até então não tinha; e se tinha, na época que começamos, não estava em evidência, que era a questão de uma movimentação no rock autoral e também letras em português. Na época em que começamos estavam supervalorizando as bandas covers. Era algo que nos deixava um pouco incomodado, porque gostamos de mostrar que tem muita gente talentosa. Quisemos fazer esse projeto, que deu certo; que já está há dois anos, um rock autoral, uma questão que gostamos e misturando as influências. Foi o que deu certo. Hoje podemos dizer que o público nos recebeu bem.

Z: Quando falam de blues rock, é parte da influência de vocês?

FB: Sim. A parte do rock já vem mais de todo mundo. É um som em comum entre nós. Só que não nos limitamos a isso. Temos influências mais antigas e mais atuais, como Raul Seixas. Em relação às letras, no processo de composição tem até mesmo um pouco de Cazuza, nos inspiramos muito no Barão Vermelho também. Mesclando um pouco com a realidade daqui, pois não é um projeto que fizemos pensando em fora, pensamos mesmo em nossa realidade. Nós criamos da nossa realidade.

Z: Isso é bom de certa forma. Vocês cantam músicas em inglês também? O que vocês pensam dessa questão de cantar em português ou inglês? Isso atrapalha em alguma coisa?

FB: Sobre as músicas em inglês da banda foi uma questão de afinidade, ficou difícil tirá-las do repertório depois. No caso de “Hey, John”, é uma música antiga, escrita há um tempo. Quando a banda começou, ela já existia, praticamente existe antes da banda. Ficou meio esquisito tirarmos, mas hoje as composições em inglês pararam, aí quando veio a “Goodbye, baby”, foi parecido. A melodia agradou muita gente, tentamos colocar letra em português e não conseguimos, então optamos por deixá-la bem simples. É uma letra que não é inaudível, você consegue entender todas as palavras, são frases simples, a letra é pequenina. É para ficar algo bem inteligível até para quem não conhece a língua.

Z: Para outras bandas daqui, que cantam também em inglês, a proposta é o alcance, o importante é disseminar a música. É o mesmo caso de vocês?

FB: Sim. Atingimos até públicos diferentes. Por exemplo, há quem diga que a música “Goodbye, baby” é a melhor que temos. Cada um gosta de uma música, não necessariamente esta, mas o fato de ser música em inglês ou português vai sempre atingir um público diferente. Pode ser que eleve o alcance de público, no nosso caso até mais porque temos músicas em português. Aquela pessoa que encontra dificuldade naquela música em inglês entende a letra em português, por isso acompanha as músicas da banda.

Z: Como é feito o processo de composição? Quem compõe na banda?

FB: Eu (Janis) escrevo as letras. No começo, quando tivemos a ideia do projeto, já havia três músicas escritas. Já com a melodia, bem precária, gravadas e que estavam engavetadas. Quando começamos com a banda, mostrei aos outros e surgiram novas ideias para incrementar, porque as músicas estavam muito básicas. Com pouco tempo começaram a surgir mais músicas, eu costumava falar aos outros que o ambiente é propício à criação. Falei ao Pedro uma vez que a música é de todo mundo, porque se eu não tivesse vivendo esse momento, esse ambiente, eu não teria capacidade de escrever aquilo daquele jeito. Creio que as músicas que temos feito juntos são bem melhores do que as escrevi anteriormente.

Z: O fato de as letras serem em português facilita para que vocês as carreguem com críticas, com problemas sociais?

FB: Acho que essa é a verdadeira intenção de as letras serem em português. Porque acreditamos na música como uma ferramenta, uma arma. Uma forma de você protestar, manifestar-se. A música para nós não é uma simples coisa para você colocar no rádio e escutar, ela é uma ferramenta transformadora. Assim como a escola, a música também pode transformar, abrir os olhos para uma realidade que até então era cega.

Z: O cenário daqui é bem comprometido. Em outros locais, em cinco anos de banda você consegue uma boa visibilidade, público, gravar discos, fazer shows etc. Vocês percebem essa dificuldade? Está faltando alguma coisa, como espaço, público, incentivo governamental?

FB: Acredito que falta um pouco de tudo, de tudo que você falou. Um amigo nosso compartilhou na internet um evento em Fortaleza no domingo à tarde (17/01), um evento de Heavy Metal que lotou. Se você fizer um evento como esse num sábado aqui, não dá aquele público. Aí o que falta é apoio, o governo ou o público? Achamos que é o público, que não valoriza tanto o que é daqui. Valoriza mais o que é de fora. A culpa não é de quem tenta fazer, mas de quem reclama que não tem isso aqui.