sábado, 14 de março de 2015

WADO – 1977

Em seu oitavo álbum, músico alagoano aproveita pra salpicar suas canções com guitarras e convidar gente de Portugal, Uruguai, Argentina e México pra cantar com ele.


Capa (Reprodução)Ano: 2015
Número de faixas: 10
Duração: 27:28
Gênero: MPB, Rock alternativo
















Wado pegou todos de surpresa ao disponibilizar, semana passada, seu novo trabalho, intitulado 1977, para “streaming” – na verdade, o disco foi posto para audição no YouTube. A faixa que abre o álbum, “Lar”, já havia ganhado o mundo três dias antes, em formato videoclipe, e tentava dar uma pista da temática que o alagoano (ele nasceu em Santa Catarina, mas se mudou para Alagoas aos oito anos de idade) tentaria abordar em seu novo disco: Wado (usando uma camisa dos Ramones) e sua banda (também vestindo roupas predominantemente escuras) põe guitarras em profusão, levantando a bandeira do bom e velho rock. Sim, rock. Bem diferente do intimista Vazio Tropical, seu último trabalho, lançado em 2013.

O estranhamento se deu porque Wado é um notório músico, um compositor de mão cheia, que já se aventurou por um sem-número de gêneros: MPB, samba, funk, eletro, reggaeton, afoxé... Mas rock, rock mesmo, assim descaradamente, ainda não. Num primeiro momento, deduziu-se que o disco inteiro seguiria com essa pegada, afinal ele foi batizado de 1977 (ano de grande importância apara o rock, pois foi nele que grandes bandas punk ganharam o mundo: Ramones, The Clash, Sex Pistols etc). Só que esse é também o ano de nascimento do rapaz (de nome verdadeiro Oswaldo Schlikmann Filho, nascido em 5 de julho de 1977). Enfim, cabe ao ouvinte decidir porque o disco se chama assim.

Então 1977 foi finalmente liberado para que o ouvíssemos. Sim, as guitarras estão (muito) presentes. Mas não como se imaginou. Não chega a ser um disco “de rock”, mas é sem dúvida o que mais se aproxima do gênero, dentre todos os que Wado lançou (oito, contando com este). Se “Lar” se encarrega de abrir grandiosamente o disco, “Cadafalso” – parceira de Wado com Marcelo Frota, a.k.a. Momo – vem em seguida, trazendo um peso bem diferente da versão que o próprio Momo gravou, em 2013. Ah, e com Lucas Silveira (Fresno) também cantando.  “Deita”, com participação do português Samuel Úria, é feita de acordes circulares e tem uma vibe bem animada (lembra, inclusive, “Lisztomania”, do Phoenix).

Após uma tríade de músicas guiadas por guitarra, surge a introspectiva “Galo”, pro ouvinte dar uma respirada. Remetendo aos trabalhos anteriores de Wado, é uma das músicas mais belas de 1977. Piano, cordas e a voz da mexicana Graciela Maria abrilhantam a canção. “Condensa” e “Mundo Hostil” são outras duas faixas que contam com colaborações de músicos estrangeiros. A primeira, um sambinha hermânico circa Ventura, tem participação do português O Martim, da argentina Belén Natali (da banda Mateo de la Luna en Compañía Terrestrial) e de João Paulo, vocalista da banda alagoana Mopho. Na segunda, Wado divide os vocais com o uruguaio Gonzalo Deniz (a.k.a. Franny Glass e membro também da banda Mersey).

Depois, “Menino Velho” e “Sombras” antecedem as duas faixas que encerram 1977: “Palavra Escondida”, parceria de Wado com Zeca Baleiro; e “Um Lindo Dia de Sol” (que lembra bastante os momentos mais pop do Café Tacvba), originalmente um rock psicodélico gravado pelo Mopho. Se seus dois últimos álbuns serviram pra trazer o público de outros artistas até Wado (em Samba 808, de 2011, participaram Chico César, Mallu Magalhães, André Abujamra, Marcelo Camelo, Curumin, Fabio Góes e Zeca Baleiro; em Vazio Tropical, de 2013, Cícero e Momo deram as caras), este 1977 ajuda a fomentar no ouvinte a busca pelo trabalho dos artistas estrangeiros que dele participam. Wado é mesmo um cara legal, pois além de nos presentear com um belo disco, ainda nos apresenta músicos legais de outras partes do mundo. Ponto pra ele; mas o ouvinte é que sai ganhando.


Nota: 8,4.
Pra quem gosta de: Pélico, Beto Só e SILVA.


Por Diógenes Rodrigues