Em seu oitavo álbum, músico
alagoano aproveita pra salpicar suas canções com guitarras e convidar gente de Portugal,
Uruguai, Argentina e México pra cantar com ele.
Capa (Reprodução)Ano: 2015 |
Número de faixas: 10
Duração:
27:28
Gênero: MPB, Rock
alternativo
Wado
pegou todos de surpresa ao disponibilizar, semana passada, seu novo trabalho,
intitulado 1977, para “streaming” – na
verdade, o disco foi posto para audição no YouTube. A faixa que abre o álbum,
“Lar”, já havia ganhado o mundo três dias antes, em formato videoclipe, e
tentava dar uma pista da temática que o alagoano (ele nasceu em Santa Catarina,
mas se mudou para Alagoas aos oito anos de idade) tentaria abordar em seu novo
disco: Wado (usando uma camisa dos Ramones) e sua banda (também vestindo roupas
predominantemente escuras) põe guitarras em profusão, levantando a bandeira do
bom e velho rock. Sim, rock. Bem diferente do intimista Vazio Tropical, seu último trabalho, lançado em 2013.
O
estranhamento se deu porque Wado é um notório músico, um compositor de mão
cheia, que já se aventurou por um sem-número de gêneros: MPB, samba, funk,
eletro, reggaeton, afoxé... Mas rock, rock mesmo, assim descaradamente, ainda
não. Num primeiro momento, deduziu-se que o disco inteiro seguiria com essa
pegada, afinal ele foi batizado de 1977
(ano de grande importância apara o rock, pois foi nele que grandes bandas punk
ganharam o mundo: Ramones, The Clash, Sex Pistols etc). Só que esse é também o
ano de nascimento do rapaz (de nome verdadeiro Oswaldo Schlikmann Filho,
nascido em 5 de julho de 1977). Enfim, cabe ao ouvinte decidir porque o disco
se chama assim.
Então
1977 foi finalmente liberado para que
o ouvíssemos. Sim, as guitarras estão (muito) presentes. Mas não como se
imaginou. Não chega a ser um disco “de rock”, mas é sem dúvida o que mais se
aproxima do gênero, dentre todos os que Wado lançou (oito, contando com este). Se
“Lar” se encarrega de abrir grandiosamente o disco, “Cadafalso” – parceira de
Wado com Marcelo Frota, a.k.a. Momo – vem em seguida, trazendo um peso bem
diferente da versão que o próprio Momo gravou, em 2013. Ah, e com Lucas
Silveira (Fresno) também cantando.
“Deita”, com participação do português Samuel Úria, é feita de acordes
circulares e tem uma vibe bem animada (lembra, inclusive, “Lisztomania”, do
Phoenix).
Após
uma tríade de músicas guiadas por guitarra, surge a introspectiva “Galo”, pro
ouvinte dar uma respirada. Remetendo aos trabalhos anteriores de Wado, é uma
das músicas mais belas de 1977.
Piano, cordas e a voz da mexicana Graciela Maria abrilhantam a canção. “Condensa”
e “Mundo Hostil” são outras duas faixas que contam com colaborações de músicos
estrangeiros. A primeira, um sambinha hermânico circa Ventura, tem participação do português O Martim, da argentina Belén
Natali (da banda Mateo de la Luna en Compañía Terrestrial) e de João Paulo,
vocalista da banda alagoana Mopho. Na segunda, Wado divide os vocais com o
uruguaio Gonzalo Deniz (a.k.a. Franny Glass e membro também da banda Mersey).
Depois, “Menino Velho”
e “Sombras” antecedem as duas faixas que encerram 1977: “Palavra Escondida”, parceria de Wado com Zeca Baleiro; e “Um Lindo Dia
de Sol” (que lembra bastante os momentos mais pop do Café Tacvba),
originalmente um rock psicodélico gravado pelo Mopho. Se seus dois
últimos álbuns serviram pra trazer o público de outros artistas até Wado (em Samba 808, de 2011,
participaram Chico César, Mallu Magalhães, André Abujamra, Marcelo Camelo,
Curumin, Fabio Góes e Zeca Baleiro; em Vazio Tropical, de 2013, Cícero e Momo deram as caras), este 1977 ajuda a fomentar no ouvinte a busca pelo
trabalho dos artistas estrangeiros que dele participam. Wado é mesmo um cara
legal, pois além de nos presentear com um belo disco, ainda nos apresenta
músicos legais de outras partes do mundo. Ponto pra ele; mas o ouvinte é que
sai ganhando.
Nota: 8,4.
Pra quem gosta de: Pélico,
Beto Só e SILVA.
Por Diógenes Rodrigues