segunda-feira, 1 de junho de 2015

RESENHA: MADAME BATERFLAI - SENHORA OU SENHORITA?

Muitas das letras falam de forma direta sobre os sentimentos, o que faz do disco uma grande declaração ou confissão: um monólogo.

Ano: 2007
Número de faixas: 12
Gênero: Rock alternativo















Um dia, caminhando nos trilhos dos meus discos, reencontrei um ouro e constatei: a banda piauiense Madame Baterflai foi a responsável e detentora de um disco que é um dos melhores já produzidos nos últimos tempos. É um disso velho, eu sei, mas é bastante representativo ao se avaliar os sons, letras, arranjos e visual.   
                                
Gravado no longínquo ano de 2005, a banda conseguiu fazer um verdadeiro caldeirão, em que se misturam rock, baião, pop, blues, bossa etc. O disco Senhora ou senhorita? foi gravado e produzido em Teresina, no Prostudio, com gravação e mixagem de André de Souza e masterização de André de Souza e Marlon Porto.   
                                                      
O primeiro item que chama atenção é o designer e as artes de capa e que também ilustram todo encarte. Vários desenhos, entre estrelas do mar, silhuetas de mulheres, homens e crianças feitos com traços que mais parecem rabiscos e até um desenho colorido mostrando a estação ferroviária de Teresina, compõem a parte gráfica do disco. Segundo informações, a arte é de autoria de David Marinho e ilustrações de Marina Carvalho Portela Leal.    
         
Nessa mistura musical, a banda conseguiu juntar desde os elementos tradicionais que compõem os arranjos nas composições de rock – como o tradicional baixo, guitarras e bateria – a instrumentos de percussão e sopro. Resultado são canções de puro rock como “Gato preto” – música que abre o disco – e “Diálogos com as estrelas”, passando pelo bluesrock como em “Castelo de Maravilhas”, além de músicas mais elaboradas nos arranjos como é o caso de “Tao” e “Quebra cabeça”, duas num misto de bossa e samba da pesada, com direito a trompete, trombone, pandeiro e tudo.   
                                                                                                      
Outras músicas estão mais para as baladas, caso de “Inocência em flor” e “Jardim do éden”. Nessas canções, as letras versam sobre amor e sentimentos como perda e dor e o som segue a linha das guitarras, baixo, bateria e teclado, com algumas passagens dos metais.  Pode-se dizer que muitas das letras falam de forma direta sobre os sentimentos, o que faz do disco uma grande declaração ou confissão: um monólogo. Não é um disco com músicas de refrão, mas todas as letras são relatos, com narrativas e poesias transformadas em músicas.    
                           
Ainda se encontra espaço para a crítica social e a música de protesto ideológico. É o caso das músicas “Alma sem cor” e “20 de agosto”, nas quais temas como violência, criminalidade, infância corrompida e alienação são livremente abordados. Para mim, merece destaque a canção “Gato preto”. É a mais dinâmica, onde a banda consegue criar um andamento que hora acelera e logo depois o ritmo decresce, criando uma sensação de instabilidade – não sei se consegui explicar. A letra é um relato, uma narração, acompanhada por instrumentos, como se os arranjos e a melodia fossem jogados por sobre a letra. O resultado é que a música, depois de pronta, em seu final, parece ser fruto do acaso, algo inesperado.

No mais, é um bom disco gravado por uma banda que pode ser classificada como rock e rock alternativo, mas que, infelizmente, já se perdeu no espaço. E, claro, fica a dica.

Por Diego Noleto