Muitas das letras falam de forma direta sobre os sentimentos, o que faz do disco uma grande declaração ou confissão: um monólogo.
Ano: 2007
Número de faixas: 12
Gênero: Rock alternativo
Um dia, caminhando nos trilhos
dos meus discos, reencontrei um ouro e constatei: a banda piauiense Madame
Baterflai foi a
responsável e detentora de um disco que é um dos melhores já produzidos nos
últimos tempos. É um disso velho, eu sei, mas é bastante representativo ao se
avaliar os sons, letras, arranjos e visual.
Gravado no longínquo ano de 2005,
a banda conseguiu fazer um verdadeiro caldeirão, em que se misturam rock,
baião, pop, blues, bossa etc. O disco Senhora
ou senhorita? foi gravado e produzido em Teresina, no Prostudio, com gravação
e mixagem de André de Souza e masterização de André de Souza e Marlon Porto.
O primeiro item que chama atenção
é o designer e as artes de capa e que também ilustram todo encarte. Vários
desenhos, entre estrelas do mar, silhuetas de mulheres, homens e crianças
feitos com traços que mais parecem rabiscos e até um desenho colorido mostrando
a estação ferroviária de Teresina, compõem a parte gráfica do disco. Segundo
informações, a arte é de autoria de David Marinho e ilustrações de Marina
Carvalho Portela Leal.
Nessa mistura musical, a banda
conseguiu juntar desde os elementos tradicionais que compõem os arranjos nas
composições de rock – como o tradicional baixo, guitarras e bateria – a
instrumentos de percussão e sopro. Resultado são canções de puro rock como
“Gato preto” – música que abre o disco – e “Diálogos com as estrelas”, passando
pelo bluesrock como em “Castelo de Maravilhas”, além de músicas mais elaboradas
nos arranjos como é o caso de “Tao” e “Quebra cabeça”, duas num misto de bossa
e samba da pesada, com direito a trompete, trombone, pandeiro e tudo.
Outras músicas estão mais para as
baladas, caso de “Inocência em flor” e “Jardim do éden”. Nessas canções, as
letras versam sobre amor e sentimentos como perda e dor e o som segue a linha
das guitarras, baixo, bateria e teclado, com algumas passagens dos metais. Pode-se dizer que muitas das letras falam de
forma direta sobre os sentimentos, o que faz do disco uma grande declaração ou
confissão: um monólogo. Não é um disco com músicas de refrão, mas todas as
letras são relatos, com narrativas e poesias transformadas em músicas.
Ainda se encontra espaço para a
crítica social e a música de protesto ideológico. É o caso das músicas “Alma
sem cor” e “20 de agosto”, nas quais temas como violência, criminalidade,
infância corrompida e alienação são livremente abordados. Para mim, merece
destaque a canção “Gato preto”. É a mais dinâmica, onde a banda consegue criar
um andamento que hora acelera e logo depois o ritmo decresce, criando uma
sensação de instabilidade – não sei se consegui explicar. A letra é um relato,
uma narração, acompanhada por instrumentos, como se os arranjos e a melodia
fossem jogados por sobre a letra. O resultado é que a música, depois de
pronta, em seu final, parece ser fruto do acaso, algo inesperado.
No mais, é um bom disco gravado
por uma banda que pode ser classificada como rock e rock alternativo, mas que,
infelizmente, já se perdeu no espaço. E, claro, fica a dica.
Por Diego Noleto